SUBMISSÃO DA MULHER AO HOMEM POR CRIAÇÃO PRECEDENTE

RESPOSTA APOLOGÉTICA À VISÃO DE QUE A MULHER DEVE SER SUBMISSA AO HOMEM PORQUE ELE FOI CRIADO PRIMEIRO

ADÃO E EVA

(1) A criação do homem e da mulher não estabelece hierarquia, mas unidade


“E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou” (Gênesis 1. 27). Aqui encontramos a criação simultânea do homem e da mulher. Nos versículos seguintes, haverá a formação individual, no qual o homem Adão é formado primeiro, depois a mulher: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gênesis 2. 7). “E da costela que o Senhor Deus tomou do homem formou (edificou) uma mulher; e trouxe-a a Adão” (Gênesis 2. 22). Por que da costela do homem? 


A Bíblia usa dois termos diferentes para criar e formar. O verbo barah para criar e o verbo assah para formar, fazer. A formação só acontece a partir de algo já estabelecido, a partir de uma matéria já criada. Sendo assim, Deus não cria o homem e depois a mulher. São criados ao mesmo tempo, mas se formam de maneira individual.


Por exemplo, uma família que sonha com a sua casa própria. Para morar nessa casa, primeiro eles terão que criar a casa, ou seja, o conceito da criação é quando o arquiteto desenha essa casa, dando a ela medidas e detalhes. Assim, quando uma criação é feita de forma completa, são observados cada detalhe que aquela casa terá. Somente depois disso haverá o processo de construção, ou formação, que é onde a casa vai tomando forma à medida que o projeto de criação vai sendo executado.


O que quero dizer é que Deus não fez o homem e viu que o projeto não estava perfeito, então fez a mulher. Não. Deus criou ambos, simultaneamente. Seu plano foi completo, mas foi formado parcialmente. Pois, se o homem não tivesse ficado um pouco sozinho, ele não teria percebido o valor da companhia.


“E chamou Adão o nome de sua mulher Eva (que significa vida ou mãe da vida) porquanto ela era a mãe de todos os viventes” (Gênesis 3. 20).


Outro título que Adão dá a Eva, é o título de Mulher. Deus os via como macho e fêmea, mas quando Adão a vê e descobre a origem de sua formação, lhe dá esse nome. 


Então, o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas e cerrou a carne em seu lugar. E da costela que o Senhor Deus tomou do homem formou (edificou) uma mulher; e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora os ossos dos meus ossos e carne da minha carne; esta será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada (Gênesis 2. 21-23).


O nome Eva (Chavah, em hebraico), só é mencionado no capítulo três. Ou seja, apenas após o pecado. E o Adão homem quem a chama assim. Porquanto, quando Deus cria o homem e a mulher, eles passam a se chamar Adão (Gênesis 5. 1,2).


Em Gênesis 1. 27, 28, lemos: “Criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai, multiplicai-vos... dominai sobre a terra.”


Neste texto, homem e mulher são criados conjuntamente, recebem a mesma bênção, a mesma missão, e compartilham da mesma dignidade ontológica, ambos portadores da imagem divina.


Logo, não há qualquer sugestão de superioridade de um sobre o outro. A autoridade é compartilhada. 


(2) A formação em tempos diferentes não implica autoridade sobre o outro


A ordem cronológica não estabelece liderança ou hierarquia. Exemplos: Os animais foram formados antes de Adão (Gn 2. 19), mas isso não os torna superiores. O sábado foi criado por último, mas é chamado “santo” e separado por Deus (Gn 2. 3).


Se a cronologia determinasse autoridade, os animais teriam domínio sobre o homem, o que é absurdo. A lógica bíblica não sustenta essa conclusão.


(3) A submissão bíblica é mútua, não unilateral


Muitos citam Efésios 5. 22 (“mulheres, sede submissas aos vossos maridos”) isoladamente. Mas o versículo anterior, Efésios 5. 21, diz: “Sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo.”


A base da vida cristã é a submissão mútua, o serviço recíproco, o amor sacrificial. Cristo lavou os pés dos discípulos, inclusive de Judas, e disse: “Se eu, sendo Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis lavar os pés uns dos outros” (Jo 13. 14).


Portanto, o chamado à submissão nunca é para justificar a dominação, mas para refletir o amor servil de Cristo.


(4) Paulo afirma igualdade espiritual plena entre homem e mulher


“Nisto não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3. 28).


Paulo não está negando diferenças biológicas, mas está dizendo que no valor espiritual, na vocação e no acesso a Deus, não há desigualdade de gênero.


(5) A interpretação machista ignora a missão do homem: morrer como Cristo


Efésios 5. 25 diz: “Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela.”


O padrão de liderança do homem não é autoritarismo, mas cruz. A missão do marido é sacrificar-se por amor, não dominar por ordem.


(6) Jesus nunca subjugou as mulheres, mas as elevou


Jesus: falou com a mulher samaritana (João 4), algo inaceitável culturalmente; defendeu a mulher adúltera contra apedrejamento (João 8); teve discípulas mulheres (Lc 8:1-3); apareceu primeiro a mulheres após a ressurreição (João 20), fazendo delas as primeiras testemunhas do evangelho.


Cristo nunca usou sua autoridade divina para submeter mulheres à opressão. Ele as valorizou, curou, ensinou e dignificou.


(7) O Espírito Santo concede dons e ministérios às mulheres


“Derramarei do meu Espírito sobre todos; vossos filhos e vossas filhas profetizarão.” (Joel 2. 28; Atos 2. 17)


Profetizar é exercer autoridade espiritual, o que prova que Deus levanta mulheres para missões de liderança profética.


(8) Submissão não é inferioridade e autoridade não é privilégio


No Reino de Deus: Autoridade é responsabilidade, não privilégio. Submissão é obediência à missão de Cristo, não servidão ao ego humano. Liderar é servir, morrer e levantar outros, não colocar-se acima deles.


Conclusão Apologética

A ideia de que “a mulher deve ser submissa ao homem porque ele foi criado primeiro” é uma leitura frágil, descontextualizada e contrária ao espírito do Evangelho. A criação conjunta, a mutualidade do amor cristão, a igualdade espiritual e o exemplo de Cristo exigem uma relação de respeito mútuo, serviço, parceria e dignidade entre homem e mulher.


Não é a cronologia da criação que define papéis espirituais, é o Espírito que dá dons conforme a Sua vontade (1° Co 12. 11).



À expressão “o homem é o cabeça da mulher”


(1) O texto base: 1° Coríntios 11. 3

“Quero, porém, que saibais que Cristo é o cabeça de todo homem, o homem o cabeça da mulher, e Deus o cabeça de Cristo.”


Essa passagem é frequentemente interpretada como uma afirmação de hierarquia, mas isso não é necessariamente o caso. A palavra grega traduzida como “cabeça” é κεφαλή (kephalē), e seu significado é mais amplo e mais rico do que simplesmente “autoridade sobre”.



(2) O significado da palavra “kephalē” (cabeça)

Na cultura greco-romana, “kephalē” podia significar: Origem ou fonte (como a “cabeceira” de um rio). Responsabilidade relacional. Autoridade protetora e sacrificial. Nem sempre “governo autoritário”.


Muitos estudiosos (como Gordon Fee, Craig Keener, Kenneth Bailey) sustentam que Paulo usa “cabeça” no sentido de “fonte” ou “responsável por cuidar”, e não como “chefe dominador”.


(3) Cristo como modelo de “cabeça”

Paulo diz que “Cristo é o cabeça da Igreja” (Ef 5. 23). Mas como Ele exerce essa liderança?


“Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5. 25). Cristo não domina, Ele serve. Não exige obediência por força, mas por amor. Não submete, Ele se submete ao Pai e morre pela Igreja. Logo, ser “cabeça” não é ocupar posição de privilégio, mas missão de sacrifício, cuidado e entrega.


(4) O contexto matrimonial de Efésios 5:21–33

Ef 5. 22 é o famoso: “Mulheres, sede submissas ao vosso marido, como ao Senhor.” Mas o versículo anterior, Ef 5. 21, diz: “Sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo.”


Ou seja: A submissão do v. 22 não é unilateral, mas mútua. O marido deve amar como Cristo, o que significa morrer, servir, cuidar. A esposa responde com confiança, parceria e entrega.


A relação não é de hierarquia opressiva, mas de aliança amorosa, onde ambos se doam no papel que assumem.


(5) Cabeça versus superioridade ontológica

Homem e mulher foram criados iguais em valor, mas diferentes em função. Mas essa diferença não implica superioridade ou inferioridade.


“No Senhor, nem o homem é independente da mulher, nem a mulher do homem” (1° Co 11. 11)


Paulo mesmo desmonta a ideia de que o homem é superior por ser "cabeça". A mutualidade é clara.


Dizer que “o homem é o “cabeça da mulher” não significa que ele manda e ela obedece, mas que ele deve amar, servir, proteger, morrer por ela como Cristo fez. A mulher, por sua vez, é chamada a corresponder com amor, respeito e parceria.


O modelo cristão é uma aliança, não uma hierarquia opressiva. Quando bem compreendida, essa expressão convida à mútua submissão, dignidade compartilhada e amor sacrificial.


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