A Arte de Preparar e Pregar Mensagens Bíblicas

A arte de preparar e pregar sermões

Nosso objetivo principal é promover a pregação de sermões bíblicos (aqueles que fluem das Escrituras). Então, vamos começar. Prepare-se para trabalhar, pois, a pregação bíblica é trabalho árduo. Prepare-se para levar o texto a sério. Aprenda a incorporar a verdade dele em seus sermões, usando poderosas ilustrações e aplicações relevantes. Por meio da pregação, procure interessar o público. Afinal, Deus lhe deu o dom da pregação. Queremos apenas ajudar você a afiá-lo, descobrindo um processo que resulta em uma pregação bíblica relevante.

Desenvolvendo e pregando um sermão bíblico.

Existem diferentes tipos de pregadores e consequentemente, diferentes tipos de pregações. Tais pregadores têm um estilo de pregação tão diferentes que aquilo que cada um deles faz no púlpito seja chamado de pregação no mesmo sentido. Eles demonstram compreender a pregação bíblica. Pois, abordam as Escrituras de modos diferentes e apresentam sermões de uma maneira pessoal; porém, no final, todos chegam ao mesmo lugar.

“Um sermão bíblico é aquele que possui autoridade bíblica”

O que é um sermão bíblico?

Um modo de defini-lo é fazer uma ligação do sermão ao conceito de autoridade bíblica. Nesse tipo de sermão, o texto bíblico serve de base para ele, e a mensagem comunicada por meio dele segue à risca o sentido que o texto das Escrituras quer passar, obtendo, assim, autoridade a partir do texto.

Sermão direto versus sermão indireto.

Há dois principais tipos de sermões, o direto e o indireto. Sermões bíblicos diretos são os melhores, pois “empregam o significado natural e lógico do texto de uma forma direta”. Sermões bíblicos indiretos têm tendências a afastar-se do significado que o texto deseja transmitir e desvia-se da ideia central na passagem da bíblia. O Sermão bíblico direto tem o mais alto nível de autoridade bíblica. Se nosso objetivo é pregar com autoridade de “assim diz o Senhor”, então é essencial que firmemos nossos sermões diretamente na Bíblia.

Iniciando o processo do sermão

Iniciando o processo do sermão.

O sermão bíblico exige, em primeiro lugar, um texto. Quando declaramos um texto no púlpito, o sermão que se seguirá deve refletir os pontos, o tema e a mensagem da passagem bíblica. É preciso ficar claro para os ouvintes que a passagem da Bíblia é o fundamento e o material do sermão.

Para usar uma passagem das Escrituras como texto fundamento do sermão bíblico, é preciso fazer a exegese do texto. Isso significa trabalhar por meio do texto o suficiente para “revelar” o significado. Na exegese do texto e no processo do sermão, você descobre o significado do texto “na cidade deles”, determina as similaridades e diferenças entre nossa situação e a dos ouvintes bíblicos, encontra princípios bíblicos universais e começa a traduzir esse significado para quem está ouvindo.

Elementos do sermão

Elementos do sermão.

O objetivo da nossa pregação é traduzir o significado do texto direcionado ao público dos tempos bíblicos para o significado do texto de nossa época, relacionando esse significado de maneira relevante e contemporânea. É necessário que se pregue a palavra de Deus de forma estruturada, na qual as pessoas entendem, compreendem e seguem o que foi pregado.

1. Ler o texto.

Devemos dar muita importância para a leitura da Palavra de Deus. Para algumas pessoas, ela parece não fazer parte do sermão. Como o texto bíblico é central para tudo o que se segue em um verdadeiro sermão bíblico, isso exige uma leitura em público do texto que é preparado, praticado e lido corretamente. De qualquer forma, uma leitura bem feita da passagem da bíblia tem um papel importante na comunicação da verdade bíblica.

2. Introduzir o texto.

Todos os sermões começam de algum modo; chamamos isso de introdução. Essa parte envolve (ou busca envolver) o público para que permaneça com você durante o sermão.

Benefícios de uma boa introdução:

a. Você introduz o público a ligação entre o texto bíblico e sermão que se seguirá. A introdução deve deixar claro que esse sermão tenta cumprir suas expectativas de ouvir uma palavra de Deus. O tema ou o assunto da pregação deve ser mencionado na introdução.

b. A introdução convence os seus ouvintes de que, o que será discutido em seguida é, de alguma forma, de interesse deles.

c. Uma introdução interessante e bem trabalhada, gera interesse da parte dos ouvintes. Sugiro que a introdução seja feita por último. Pois, é muito difícil introduzir algo que ainda não tenha sido escrito. Quando sabemos o que vamos pregar, quando sabemos o conteúdo do nosso sermão, fica mais fácil introduzi-lo.

Texto: 2º Coríntios 5.7
Sermão: Viva pela fé, não pelo que vê.

Introdução: Quando foi a última vez que você foi ao zoológico? Você se lembra de ter visto a impala africana em uma das jaulas? Esse animal é bastante incomum. Especialistas dizem que eles são capazes de dar um salto de três metros de altura ou nove metros de distância. Entretanto, quando você vê o lugar em volta dela, geralmente há apenas uma cerca de um metro. Como eles conseguem mantê-la lá dentro? Porque a impala não pula se não puder ver o local da aterrissagem; ela vive com base no que vê.

Costumamos viver dessa forma. Queremos saber os detalhes exatos de uma situação; queremos garantias e segurança e nenhum risco; almejamos assegurar que as coisas sairão da nossa maneira. Assim como a impala, nós nos habituamos a viver pelo que vemos. Mas, Paulo sugere outra opção para nós cristãos. Ele afirma: “Andamos por fé e não por vista”. O que isso significa? Vamos investigar.

3. Apresentar os pontos principais.

Independentemente da abordagem, todo sermão precisa de, pelo menos, um ponto. Qual é a lição principal de Deus encontrada nesse texto? Que verdades precisam ser aplicadas na vida dos ouvintes? Esses princípios se tornam evidentes de alguma maneira em todo sermão.

4. Explicar o sermão.

O segmento de explicação do sermão se une aos seus pontos principais. Se um deles é uma verdade do texto, então os ouvintes irão querer saber como ele derivou do texto. Nesse ponto do sermão, você irá dizer suas opiniões e as do texto. Nessa seção é importante que você mantenha os fatos verídicos e a verdade clara, mesmo dando sua opinião.

5. Dizer aos ouvintes o que fazer com ele.

Toda vez que você pregar, as pessoas perguntarão desde o início como esse sermão pode fazer a diferença, de modo prático, na vida de cada uma. Sermões que não têm aplicações poderosas e relevantes, ficam na categoria de uma mera história sendo contada, em vez de uma proclamação bíblica. Uma aplicação eficiente é crucial para uma pregação bíblica eficaz.

6. Finalizar o texto.

A conclusão sintetiza todo o sermão, pois nela estão incluídos os pontos principais, não apenas o ponto final. A conclusão do sermão leva o público a uma decisão. As conclusões devem ser trabalhadas e praticadas com tanto cuidado como o restante do sermão. Tudo o que se inicia, precisa de uma conclusão.

Para cumprir o seu propósito, a conclusão deve ser concisa e concluir de fato. Ela não introduz novos pontos ou informações que fazem com que os ouvintes pensem que o sermão está começando novamente.

Texto: 1º Coríntios 4. 16,17
Sermão: Ser um exemplo.

(Sermão baseado na afirmação de Paulo aos Coríntios de que eles deveriam imitá-los.)

Conclusão: Se você perguntar às pessoas, a maior parte concordará que precisamos de exemplos, pessoas que vivam a verdade em nossa presença para que possamos seguir o seu exemplo. Porém, a pergunta verdadeira é quem tomará a iniciativa de sê-lo. Muitos de vocês já ouviram a fábula do Esopo do gato e o rato?

Os ratos fizeram um conselho para considerar quem lidaria com o gato. Houve muitas sugestões, mas, por fim, um jovem rato falou: “Nosso maior problema é que o inimigo chega de mansinho, sem nenhum aviso. Se tivéssemos uma forma de sermos avisados da chegada dele, poderíamos escapar facilmente. Proponho pegarmos um sininho e amarrá-lo em uma fita para colocar em volta do pescoço do gato”.

Todos gostaram da ideia e concordaram que aquela era a resposta, até que um velho rato tomou a palavra: “Isso é muito bom, mas quem colocará o sininho no Gato?”. Ninguém se pronunciou. Concordamos que há necessidade de cristãos que servirão de exemplos para nós como um crente deve viver, falar, pensar e testemunhar. Contudo, a questão permanece: quem colocará o sininho no gato? Você se prontificará para ser o modelo que os outros imitarão?

Forma do sermão: dedutivo versus indutivo.

a. A pregação dedutiva vai de uma declaração geral do propósito do sermão aos fatos mais específicos quanto àquele propósito. Geralmente, ele declara a ideia principal do sermão e apresenta proposições, argumentos ou verdades espirituais acerca do tema. Por exemplo, um sermão sob o tema Jesus é o Senhor e os pontos específicos: 1. Jesus é o Senhor da natureza; 2. Jesus é o Senhor da morte; 3. Jesus é o Senhor da vida.

O sermão dedutivo, de fato busca afirmar do que trata a passagem e tenta expor os princípios espirituais do texto, relacionados àquele tema. Os ouvintes aceita ou rejeita as proposições com base nas evidências apresentadas no sermão. Utilizam provas, raciocínio, comparações teológicas, explicações lógicas, conceitos.

b. A pregação indutiva parte de verdades específicas, exemplos ou ideias do texto e vai até a verdade do sermão, a qual, geralmente, é revelada no final de cada unidade do sermão ou próximo dele. O método indutivo busca “ajudar os ouvintes a verem a verdade de uma maneira que eles fiquem prontos para aceitar, concordar com ela e reagir diante dessa verdade ao final do sermão”. O pregador imagina um problema e orienta os ouvintes para resolvê-lo sozinhos. Utilizam histórias, ilustrações, analogias.

Preparando o sermão em sete passos.
Exegese

Passo 1. Compreender o significado do texto “na cidade deles” (significado original).
Ler o texto, perceber os detalhes do texto. Levar em consideração o gênero. Perceber o contexto literário e histórico-cultural. Verificar comentários. Traduzir a passagem da língua original se possível.

Apontar para o público

Passo 2. Medir a largura do “rio”.
Definir as similaridades e diferenças entre o contexto bíblico e o de hoje.


Passo 3. Atravessar a “ponte dos princípios”.
Identificar os princípios teológicos universais e atemporais. Exemplo: pecado.


Passo 4. Compreender o texto em “nossa cidade”.
Observar os elementos-chave de aplicação para o público original.

Passo 5. Fazer a exegese para os ouvintes. Determinar o conhecimento bíblico e teológico, determinar o contexto social e cultural do público.

A escrita e a pregação

Passo 6. Criar ilustrações para facilitar a assimilação dos conceitos.
Evitar ilustrações muito longas.

Passo 7. Escrever o sermão e praticar a pregação. Escrever o sermão completamente na forma que você diria. Trabalhar no uso da voz (gravidade, ritmo, volume, articulação). Prestar atenção na linguagem corporal (gestos, expressões faciais, contato visual, animação). Prestar atenção no tempo. Ajustar o seu sermão para ficar dentro do tempo reservado.

Contexto histórico-cultural

É o pano de fundo do texto bíblico. Por exemplo: como era a vida dos israelitas quando estavam vagando pelo deserto? Onde estava Paulo quando escreveu a carta aos Colossenses? Isso envolve informações sobre o autor bíblico, o público da Bíblia e quaisquer outros elementos histórico-culturais. Precisamos conhecer o contexto histórico-cultural da bíblia, porque Deus escolheu falar primeiro com os povos antigos, vivendo em culturas que era diferentes da nossa. Quando entendemos o contexto original da Palavra de Deus, iremos compreender seu significado e aplicá-lo em nossas vidas.

Quem foi o autor?
Qual era o seu contexto? Quando ele escreveu? Qual era a natureza do seu ministério? Por que ele escreveu? Quem eram os ouvintes bíblicos? Quais eram as circunstâncias deles? O que estava acontecendo na época em que o livro foi escrito? Qual era o contexto religioso e cultural? etc.


Contexto histórico-cultural

Texto: 2º Timóteo 4.21 (Paulo para Timóteo)
Procura vir antes do inverno.

Contexto: Paulo está preso em Roma, aguardando julgamento, conforme escreve a Timóteo, que está liderando a igreja em Éfeso. Viajar de navio era perigoso a partir de meados de setembro até o fim de maio e proibido de novembro até fevereiro. Quando Timóteo recebeu a carta de Paulo, ele tinha pouco tempo para fazer a longa viagem até Roma. Paulo parecia dizer: “Coloque as coisas em Éfeso e embarque assim que possível. Se você não partir agora, antes que o inverno se estabeleça, as rotas de navegação serão fechadas e você não chegará a tempo. Timóteo, se esforce para chegar aqui antes que me matem”.



Fonte: Pregando a Palavra de Deus - Terry G. Carter, J. Scott Duval & J. Daniel Hays

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